Em 1996 fiz uma entrevista muito inspiradora com a artista visual Argenide Servilha, criadora e sócia da Viroupapel, uma empresa especializada na criação de papel artesanal para fins decorativos e pessoais. A produção que a Argenide fazia era de uma beleza e de uma expressividade tão genuína que me impactou de uma forma que eu nunca mais me recuperei. É desta época que vem meu amor pelo papel artesanal, porque meu amor por papel começou na infância. Eu tive o privilégio de ter uma tia que trabalhava numa gráfica. E toda vez que eu ia passar férias no Paraná minha tia Vera me levava para passear na gráfica – que também era papelaria. E é claro que eu sempre voltava com presentinhos. Era demais! Disso para a faculdade de jornalismo foi um caminho natural. Na faculdade me entusiasmei com diagramação e a criação de projetos gráficos e editoriais. A partir deste olhar posso dizer que meu caminho já estava trilhado.
Apresento abaixo uma transcrição da reportagem que eu fiz naquela época, uma das minhas primeiras matérias e que eu realizei com muito empenho. Deixo também no final do post um print da matéria publicada no caderno Metropolitano, do Correio Popular, jornal que trabalhei por alguns anos como colunista e repórter. Segue a transcrição:
A Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, fez o Brasil entrar de vez na onda ecológica. O termo mais usado durante o fórum foi biodiversidade das espécies e, de lá pra cá, a busca de alternativas recicláveis e biodegradáveis nunca estiveram tão na moda. Para a engenharia agrônoma Argenide Servilha, o desenvolvimento da “consciência ecológica” era só questão de tempo. Em 1990, ela e os sogros, Neuza e Romão Servilha, abriram em Salto uma fábrica de papel artesanal que tem nome sugestivo: Viroupapel.
O processo de fabricação de papel artesanal, segundo Argenide, inclui o cozimento e lavagem das fibras, antes de colocá-las no liquidificador industrial. Desse processo, vai resultar uma massa orgânica, utilizada como matéria-prima para fabricação do papel. “Nós conseguimos a matéria-prima para a fabricação do papel através de podas de prefeituras, e sobras de culturas — como a bananeira —, indústrias têxteis e floriculturas, entre outras. É por isso que o trabalho é totalmente ecológico”, explica.
A partir de uma receita caseira que utiliza folhas e caules secos de bananeira, sisal, juta e yucca, Argenide produz 100 a 120 folhas por dia. Segundo ela, toda a produção é baseada na técnica oriental, agora ocidentalizada, de papel feito à mão. “A ideia é fazer um material bonito e diferenciado, mantendo características dos primeiros exemplares fabricados, como a beirada irregular, que é um efeito típico do papel feito à mão”, explica.
O passo seguinte para a fabricação do papel é jogar a massa orgânica num tanque de água e separá-la em telas de nylon. Cada tela irá produzir uma folha de papel que depois passará por um processo de secagem. “É nessa hora que a prática faz a diferença, pois é preciso ter sensibilidade nas mãos para tirar folhas com a mesma gramatura, ou seja, deixá-la com o mesmo peso por área”, explica.
Com caixas de papelão, jornais e filtros de café, Argenide faz a massa de papel reciclado. Todo o papel picado fica imerso em água por 24 horas e depois é batido no liquidificador. O processo de tirar folhas segue a mesma rotina do papel artesanal.
Apesar de reciclagem ser uma tendência mundial, Argenide afirma que desde o começo de seu trabalho prefere trabalhar mais com os tipos artesanais do que com os reciclados. “Também produzimos reciclados, mas eles não são tão bonitos e finos como o papel artesanal. Este é mais arte”, disse.
A Viroupapel começou com uma linha de papelaria, mas depois dos primeiros anos sentiu que tinha mais potencial na criação de tipos. “Fizemos uma linha de agendas e blocos criativos. Também fizemos cartões de casamentos para selar uniões ecologicamente corretas. De todos estes itens o único que mantemos são os cartões de casamento”, disse.
O segmento de convites de casamento é hoje um dos mais importantes da empresa. Com sete modelos totalmente diferenciados, a Viroupapel recebe pedidos de noivas dispostas a sair do convencional. Entre os mais procurados estão os modelos com pétalas de rosa, com linhas de algodão e o de casca de cebola, que possui um efeito charmoso.
Segundo Argenide, os pedidos de convites cresceram muito em relação à divulgação do produto. A empresa precisou se adequar para atender os pedidos e oferecer um serviço completo. “Nós não fazíamos a impressão e muitas noivas reclamavam. Agora, entregamos todos os cartões impressos, incluindo os nomes dos convidados”, disse.
A experiência como engenheira agrônoma e paisagista ajudou Argenide na hora de inventar novas fórmulas e testar plantas. Atualmente a empresa tem mais de 20 tipos de papel, além de um catálogo de cores que são obtidas através de pigmentos minerais, corantes artificiais e plantas que dão cor ao papel. “Cada papeleiro tem sua marca e a nossa é estar sempre inovando em materiais”, avalia.
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Um abraço.
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